Muito antes do 25 de Abril já eu tinha compreendido que o conhecimento e o trabalho eram a segurança para ganhar razoavelmente e fazer o que entendesse.
Desde 1946 que comecei a folhear a Europa. Tinha um tio, José Caldeira, chefe de estação da CP em Badajoz. Como ele tinha um filho da mesma idade fui lá passar as férias grandes.
Badajoz era uma cidade vestida de negro. As famílias não tinham esquecido os mortos da Guerra Civil, 1936-1939. Os autocarros eram velhíssimos, muitas casas ainda estavam destruídas, havia muita gente de alpergatas e triste. Os engraxadores eram às dezenas e cada escudo nosso valia duas pesetas e meia.
O meu primo e eu tínhamos o vício dos livros, do cinema ao ar livre e dos gelados. Se havia algo de bom em Badajoz eram as livrarias. A minha tia admirava-se como dois miúdos eram capazes de estar entretidos horas, lendo livros em espanhol sem termos estudado a língua. Lembro-me que os primeiros foram o Ivanhoe de Walter Scott e o Robinson Crusoe de Daniel Dufoe.
Quando nos fartávamos da leitura pedíamos autorização para visitar os arredores de comboio, muito velho, mas que nós adorávamos. Íamos até Mérida e outras terras de modo que partíssemos de manhã e estivéssemos em casa à hora de jantar.
Hoje, seria impossível aos pais permitirem estas viagens a dois garotos. Mas tanto em Portugal como em Espanha a segurança era total. Nunca se tinha ouvido falar de pedofilia e de roubo de crianças.
A partir desta experiência nunca mais parei, salvo os anos em que fui para os cursos da Mocidade Portuguesa, que eu adorava pois tínhamos toda a qualidade de desportos e a camaradagem era excelente. Os outros anos foram para correr a Europa servindo-me muitas vezes dos Campos de trabalho para Jovens.
Estas saídas para o estrangeiro mostraram-me que eu podia ganhar quanto quisesse se soubesse trabalhar e conhecesse a língua do país onde me encontrava. A partir desse momento, por mais que os meus pais insistissem em levar mais dinheiro do que podia necessitar, nunca levava. Era a maneira de me forçar a procurar trabalho e a ganhar o que me apetecesse. Sentia-me totalmente livre e sem necessidade de prestar contas a ninguém, embora meus pais nunca me pedissem quaisquer contas. Eu imaginava que assim ainda era mais livre do que a liberdade permitia. Ganhei a certeza que era capaz de me sustentar sem recorrer a ninguém.
A experiência no estrangeiro e na Europa evoluída e próspera é algo que aconselho a todos os jovens.
Com estas entradas e saídas da Europa houve um ano em que trabalhei no Consulado de Portugal em Paris e aí estudei dezenas de Portugueses.
Tudo gente de garra. Dispostos a vencer. Foi lá que conheci o Tarzan Taborda com uma orelha deitada abaixo, dois dias antes, num combate de luta livre que venceu, apesar do adversário lhe ter arrancado parte da orelha com uma dentada.
Nesses anos a grande maioria dos trabalhadores ou iam para as grandes obras ou abriam valas por toda a cidade para enterrarem fios elétricos.
O comprimento estabelecido era de 10 metros de comprido por um de altura e 60 centímetros de largura. Nunca, ou raramente, os franceses conseguiam completar a vala. Conheci seis portugueses que chegaram a ultrapassar os 32 metros.
Ganharam fortunas que lhes saíram do corpo, mas que não os mataram.
O Português é assim mesmo. Quando quer excede-se em trabalho, vontade e saber.
Esse trabalho tanto pode ser braçal como mental. Somos grandes quando nos dispomos a isso.
É aquilo que, neste momento, Portugal espera de todos nós.
C.S
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