Quando andei por Lisboa em estudos, na política ou em trabalho mais produtivo, conheci bastante gente da Galiza em todos os ramos de comércio. Sobressaíam, pelo número, as tascas e as saborosas iscas.
Comia-se por pouco dinheiro. O sabor era de cinco estrelas.
Os galegos, sempre simpáticos, muito conversadores e muito trabalhadores. Fiz amizade com muitos deles.
Neste vício de conhecer a vida e porque teimamos em cometer tantos erros, quis saber por que havia tanto galego em Lisboa e porque todos diziam maravilhas de Portugal, embora fossem todos os anos à Galiza investir parte do dinheiro que aqui ganhavam.
Os mais velhos tinham vindo para Portugal fugidos da Guerra civil Espanhola (1936-1939). Chegaram aqui sem nada. Nem pesetas, nem escudos, nem amigos.
Muitas vezes ouvi a frase: ”trabalhas como um galego”. Em vez de me ofender, isso honrava-me. Aquilo que me torna saudável e feliz agradeço ao trabalho.
Os galegos olharam para as mãos e para as faltas dos portugueses. Nesse tempo a água canalizada ainda não estava em todas as casas e a que havia era salobra. Foram batendo às portas para saber quem queria água do Chafariz d’el Rei, em Alfama, foi construído no século XIII e abastecia não só a população como as armadas que saíam do Tejo. A água era puríssima.
Em poucos dias resolveram o problema de dinheiro. Os galegos não tinham mãos a medir e passaram também a transportar móveis de um lado para o outro.
Serviram-se da cabeça, das mãos, dos ombros e da muita água, de que as fontes de Lisboa eram férteis, e que só lhes custava o esforço. Em 1960 toda essa gente estava bem na vida. Os filhos e netos continuam por cá e pela Galiza.
Ao saber que Rosalía Mera Goyenechea tinha falecido na quinta-feira fiquei triste. Voltou-me ao pensamento a Espanha do seu nascimento.
A família de Rosalía era bastante pobre e vida em Espanha tremendamente difícil. Caso Salazar não tivesse autorizado o envio de mantimentos para os nossos vizinhos, a catástrofe duraria muito mais tempo. Sacrificou um pouco os portugueses, que ainda viviam as dificuldades provocadas pela Primeira República (1910-1926), mas salvou milhares de espanhóis da fome, da miséria, e da morte.
A partir de 1946 ia passar as minhas férias grandes a Espanha, onde tinha um tio que era chefe de Estação dos Caminhos de Ferro Portugueses.
Era dramático: casas a cair aos bocados, portas dos autocarros seguras com arames, tudo de alpargatas, mulheres todas vestidas de preto. Luto carregado, semblante triste.
Deixemos isto. Celebremos Rosalía. Ela conseguiu sacudir o fardo da pobreza a que estava destinada. Tornou-se a mulher mais rica de Espanha. Tudo feito à custa do trabalho da perseverança e da inteligência.
Onde estiver, Rosalía: muchas gracias por su ejemplo.
C.S
. Portugal, País de marinhe...
. Acredito na inteligência ...
. Todos mandam, ninguém se ...
. “Liga” perde combate na c...
. Em 146 a.C destruíram Car...
. O fim da guerra com estro...
. Estupidez criminosa alime...
. Tanto quis ser pobre, que...