- Mato. Mato sim! Esta vergonha nunca a perdoarei! Dei-te tudo! Enchi-te de luxo... de viagens...satisfiz os teus caprichos, desci às tarefas mais desprezíveis para que não te faltasse nada! Vendi-me para te satisfazer!
- Deves estar enganado. Nunca te pedi nada. Foi por ti e só para ti que fizeste tudo isso. Por todo este luxo esqueceste os afetos, o carinho, aquilo que eu mais necessitava. Eu ganho o meu ordenado.
- Agora compreendo como o ganhas! Prostituindo-te com o patrão! Por isso te era indiferente tudo quanto te oferecia e proporcionava. Que puta reles! Eu entreguei-me cegamente a um amor que não existia.
- A um amor que não existia porque nunca o concretizaste. Em vinte anos de casada nunca senti um simulacro de prazer.
- E tem-lo com este velho!
- Sim. Tive-o com um homem que sabe fazer sonhar e cantar o corpo.
- Puta! Não passas de uma prostituta!
- Chama o nome que quiseres. Daniel vale cem vezes mais que tu e não me arrependo, nem jamais poderei esquecer os momentos que ele me proporcionou.
- Não posso acreditar no que estou a ouvir! Retira imediatamente o que acabas de dizer!
- Não! Foi a primeira vez na vida que me senti completamente feliz e realizada.
João de Brito sentiu o ódio encher-lhe as faces, subir-lhe à cabeça. Estava vermelho de raiva. Dirigiu-se à vitrina das armas. Mariana, sentada na carpete manchada de sangue, parecia indiferente a tudo quanto lhe pudesse acontecer. João de Brito apontou-lhe a arma. Mariana olhou-o de maneira provocante.
- Não tens coragem. Amas demais os prazeres da vida. És um cobarde balofo e sem...
“Um tiro no coração calou-a para sempre. Pelas faces de João de Brito as lágrimas caíam sem parar. Como um sonâmbulo percorreu a casa. Em voz entrecortada pelas lágrimas recordou o que lhe aconteceu e o que fizera: "uma vida inteira de trabalho, de luta, de sacrifícios, para quê? Como poderia imaginar que Mariana me traía com um homem que podia ser seu avô? Que vida maldita me foi destinada e que eu pensei ter modificado com sacrifício e trabalho!
Vida tão dura e tão difícil que uns míseros cêntimos eram dinheiro. A morte de meu pai fez-me renascer, olhar bem, o que girava à minha volta.
O Politécnico e a escola da vida ensinou-me tudo quanto foi preciso para vencer. Pelos vistos, esqueceu-se de me ensinar a amar. Tornei-me egoísta.
Logo que alcancei a independência financeira esqueci-me, estupidamente, de Mariana.
Afinal, para que me servem todos os milhões acumulados? Não tivemos filhos. Que faço agora? Entrego-me? Conto a verdade, desapareço?
João de Brito voltou ao quarto onde jazia a mulher.
Por que fizeste isto? Por que tinha eu de te encontrar como te encontrei? Porquê? Porquê, em nossa casa, no nosso quarto e na nossa própria cama?
Gostava muito de ti, Mariana! De tudo o que aconteceu, aquilo que mais me magoou foi teres sido injusta e leviana nas palavras.
Por que havias de ser tu a castigar os meus erros, se os outros, com mais razão, não o fizeram? Precipitei-me na loucura de um ciúme estúpido. De um orgulho ferido. Julgo que não me perdoarás nunca. Não soube fazer a tua felicidade porque o dinheiro e a ambição me cegaram. Deixo-te só com a força que levaste. Pelo menos, tu amaste uma vez na vida. Eu, nem isso consegui. Peço-te perdão.
João de Brito dirigiu-se para o jardim, sentou-se sob os ramos de uma cameleira. Olhou tudo quanto o rodeava. As lágrimas caiam-lhe abundantemente pelas faces, agarrou uma camélia e premiu o gatilho.
CONT
Coloque a máscara.-Os tempos ficaram mais complicados. Com o vírus regressou a pandemia Comunista dos II, III. IV e V Governos Comunistas que espalharam a mentira tantas vezes, que os trabalhadores acreditaram. Agora dizem que o culpado é o Marcelo. Que infâmia e falta de vergonha~culpar o Presidente da República,
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C.S
CAPÍTULO QUINTO
O marido de Mariana regressou mais cedo de Inglaterra.
Esta, embora dormindo profundamente devido ao cansaço e ao prazer, levantou-se de um salto. Espreitou à janela. João de Brito arrumava o carro. Mariana correu para Daniel que dormia feliz. Antes de o acordar beijou-o. Abanou-o várias vezes. Entregou-lhe umas calças e uma camisa. Fez-lhe sinal para não falar.
- Tem aqui as chaves do meu carro. Saia por aquela varanda. Depressa que já o senti no átrio.
- Quem? Perguntou Daniel sem entender o que se estava a passar.
- O meu marido.
- Ele não estava em Inglaterra?
- Por favor Daniel faça as perguntas depois. Não. Não! Por aí não. Saia pela varanda. Leve as chaves do carro.
Daniel, de calças na mão, descalço, cabelo desgrenhado, cambaleante, só teve tempo de saltar o gradeamento. João de Brito acabara de entrar no quarto. Mariana escondeu a cara com os desalinhados lençóis enquanto o marido, de olhar desvairado, se dirigiu correndo para a varanda que tinha ficado aberta. João de Brito viu Daniel completamente nu, tentando nervosamente abrir a porta do carro de Mariana, sentar-se ao volante e arrancar em direção ao portão que estava fechado. O sangue toldou-lhe a vista. Correu à vitrina onde tinha as armas de caça. Carregou a Baikal que era a que lhe proporcionava o tiro mais longo. Voltou à varanda. Daniel tinha aberto os portões e preparava-se para entrar no carro. João de Brito atirou a matar sobre a cabeça, mas Daniel baixara-se instintivamente e estendeu-se dentro do carro. Os chumbos pontearam a porta, o tejadilho e o vidro de trás do carro. Daniel aterrado ainda olhou para a varanda e viu João de Brito atirar outra vez sobre os vidros. Acelerou rapidamente e desapareceu na primeira curva enquanto João de Brito disparava mais quatro tiros. Mariana, embora aterrorizada, correu para o marido e tentou desarmá-lo. Este deu-lhe uma violentíssima cotovelada no peito. Ela caiu desamparada no chão. João de Brito apontou-lhe a arma.
- Mata! Talvez seja a única coisa que saibas fazer bem além de contrabandeares marfim e ouro falso.
João de Brito pontapeou a mulher sem qualquer precaução. Estava fora de si. Mariana nua e ensanguentada cobria a cara com os braços, enquanto ele a tentava golpear a pontapés. Quando parou, Mariana disse-lhe em tom desprezível:
- Mata! Mata! Impotente! Incapaz! Infame! Sacia-te no ódio e na frustração!
Coloque a máscara. A insuspeita revista Lancet diz que, com vacina ou sem Vacina, o Covid anda por aí.
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C.S
- Como é bom estar consigo, Daniel.
- Desculpe, lembrar-lhe o seu marido.
- Não esteja preocupado. Só volta dentro de quatro ou cinco dias. Pode ficar descansado e recompor-se do susto que hoje apanhou.
- Sustos, Mariana, sustos.
- Sustos?
- Um dia conto-lhe. Quero-a toda para mim, Mariana. Benditos sustos que me abriram uma nova oportunidade para a vida. Uma vontade mais forte de viver.
A partir de hoje nada fará que modifique a minha conduta.
Nem deuses, nem demónios, nem espíritos. Nada estará contra mim quando a sei a meu lado.
Daniel calou-se por momentos e disse num sussurro:
"Afinal é só a luta entre o visível e o invisível. Veremos qual de nós se cansará mais depressa. Eles vivem noutra dimensão. Eu tenho a certeza desse estado em que se encontram. Tenho as mesmas possibilidades que eles e ainda estou vivo..."
- Que está a dizer Daniel? Não entendi uma única ideia.
- Há de entender, minha querida. Há de entender.
“Mariana envolveu Daniel nos braços e mais uma vez o amor os absorveu. Amaram durante horas até que o sono os acolheu exaustos.”
Coloque a máscara. Os velhos servem de teste. Já vão na terceira vacina...Para quê aumentá-los? Ou morrem à fome ou das picadelas.
E que fazem Comunistas e Bloquistas? Deitam fora a faca e o queijo que têm na mão, tal como os grevistas deitam fora o dinheiro que aumentaria o nível de vida de todos os que vivem do suor do rosto.
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Com a queda do Governo sou obrigado a mudar de estratégia para ajudar os Reformados que vivem na miséria e os outros pobres.
Enquanto deixo a cabeça pensar, continuarei a colocar os Capítulos 15, 16, 17 e 18, em blogues numerados, na esperança que alguém seja capaz de, com imaginação, continuar o livro. Caso contrário deixo-o em banho-maria, até me passar a neura devido ao erro cometido pelo PCP e pelo B.E.
C.S
- Como vamos justificar esta atitude?
- Não pense em justificações...a razão não justifica o amor
- Mariana, estes são os momentos mais felizes de toda a minha vida.
- Que bom ouvir isso. Poucos homens sabem apreciar o amor de uma mulher.
- Como pudemos viver durante todos estes anos tão perto e ao mesmo tempo tão distantes?
- O ritmo da sua vida empresarial e de negócios é tão alucinante que raramente teve um curto momento para olhar à sua volta.
Estas coisas acontecem sem nos apercebermos porquê. Eu própria sempre o olhei como o patrão ativo, impulsivo, genial, que à distância comanda todos os empreendimentos onde está envolvido. Embora sempre o tenha admirado pela capacidade de trabalho e pelo seu porte determinado nunca me passou pele cabeça o que está a suceder.
- Também eu me tinha conformado com a vida que levava.
Só agora, nos seus braços, compreendo essa vida tão insípida.
Ganhei estatuto social, posição entre os homens mais poderosos deste País e de boa parte do mundo e quase morria sem ter partilhado, o máximo dos encantos: o ato mais belo, mais sublime e mais nobre que um homem e uma mulher podem realizar.
- O homem e a mulher não sentem prazer se não gostarem verdadeiramente um do outro ou se os preconceitos forem tantos que os impeçam de se tocar descontraidamente.
- Estou felicíssimo. Parece que vivemos juntos há longos anos.
- O Daniel nunca pára um momento.
- Os números, a ânsia de me afirmar na vida profissional tornaram-me cego...
- Mas casou e teve filhos. Eu não fui capaz
- Eu casei com uma mulher de seda. Charan era Indiana.
O prazer flui naturalmente, num rio de loucura e de êxtase.
-Gostava da sua mulher?
- Gostei muito. Depois de enviuvar nunca mais pensei nela. Sentia-lhe a falta. Para não me martirizar sentimentalmente embrenhava-me nos negócios de tal maneira que fiz deles a minha paixão. Nem era pelo dinheiro...
- Ainda a recorda?
- Amei-a. O passado vivia comigo, até hoje.
Coloque a máscara.Previne a gripe, o Covid e deixa de servir de almofada pregadeira. No Parlamento serve para esconder o medo de perder aquele chorudo meio de ganhar dinheiro e esquecer os Reformados com menos de 400 Euros.
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C.S
- O meu marido vive para o trabalho. Só pensa no trabalho. Não temos filhos. A casa é a sua grande paixão.
- Julgava que fosse a Mariana.
- Os homens cansam-se depressa das paixões.
Daniel olhou Mariana. Ficou surpreendido pela beleza, misto de provocante e inocente; olhos negros inquietantes, cabelo muito preto, caído displicentemente sobre os ombros, nariz perfeito, boca grande, sorridente, apetitosa. Nunca tinha reparado. Vinte anos de contactos rotineiros, sempre muito agitados, tinham feito dele um cego. As viagens de um país para outro, pouco tempo lhe deixavam livre para se debruçar com mais atenção sobre aqueles que, mesmo trabalhando lado a lado, lhe eram desconhecidos. Olhou-a deslumbrado. Pela primeira vez sentiu-se atraído pela aura de uma mulher que tanto tempo vivera a seu lado sem dar pelo seu encanto.
- Bebe?
- Se me oferece. “Mariana aproximou-se de Daniel, agarrou-lhe a mão direita e levou-a aos lábios. Daniel ficou perturbado. Instintivamente puxou Mariana para si.
Olharam-se longamente. Mariana abraçou-o. Encostou-lhe a cabeça no peito. Daniel sentiu-se calmo e feliz. Também não se preocupou. Cingiu Mariana com sofreguidão; esta respondeu-lhe com desejo.
O corpo de Daniel absorve forças. Os seus setenta e um anos ganharam os apetites e as fúrias dos quarenta. O amor refinado, mais audaz e mais seguro das suas potencialidades e dos prazeres que sabe dar e receber, estende-se por toda a sala, por toda a casa, amando em cada recanto, em cada local e terminando no quarto onde o tempo, no templo do amor, parecia não acabar. Mariana perdida de prazer e luxúria, tanto pedia para terminar como para continuar. Daniel não compreendia o porquê daquela potência.
Tinha encontrado a mulher capaz de o fazer feliz, talvez a mulher da sua vida.”
- Mariana... as nossas idades...
- Não diga nada. Deixe-me saborear e agradecer aos deuses o irresistível do prazer.
- O seu marido...
- Chiu! Não fale nele. Esqueça. Deixe-me sentir a felicidade de estar consigo. Deixe-me absorver o gosto da sua pele.
- Depois de minha mulher, nunca mais tive outra.
- Nem eu, outro homem. Mas agora compreendo que pedir a um homem ou a uma mulher que tenha um só amor é o mesmo que pedir a Deus para escolher um ser e dedicar-lhe todas as atenções.
Coloque a máscara. Não facilite. Estamos todos na corda bamba. Oiça o que eles dizem. A tragicomédia da Primeira República, 1910-1926, pode repetir-se.
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C.S
- O que sucedeu aqui?
- Você não compreenderia.
Mariana olhou-o bem de frente. Daniel sentiu o ridículo da figura em que se encontrava.
“ A curiosidade era mais forte do que todas as conveniências.Mariana insistiu:”
- Encontrou os seus amigos?
- Como?
- Sempre encontrou aqueles seus amigos que eu tinha na agenda?
- Onde está a agenda?
- Estava no gabinete.
- Graças a Deus!
- Porquê, graças a Deus?
- Por nada, esqueça. Esqueça também os meus amigos. Esqueça o que está a acontecer.
- Vai ser difícil. O gabinete está desfeito e alguém tem de o reparar.
- Tem razão.
- As pessoas vão-me perguntar o que sucedeu e o senhor ainda não me disse.
- Esqueça Mariana, esqueça. É tudo muito complicado. Teria de lhe explicar tudo e acabava por não entender. No fim havia de pensar que estou a ficar louco. Se lhe falasse de outra dimensão da vida, de outra qualquer comunicação, isso dizia-lhe alguma coisa?
- Um pouco.
- Ponha uma pedra neste assunto.
Quanto ao escritório, diga aos guardas que tragam um oleado de oito por oito metros e cubram toda a entrada. Diga-lhes também que qualquer comentário sobre a remodelação do escritório, dará motivo para despedimento.
A Mariana, amanhã providencia para que um bom decorador dê um ar diferente ao escritório.
Confio na sua inteligência.
Encontrou alguma coisa para eu vestir?
- Nada. Todos os fatos que estavam nos armários do escritório desapareceram. Temos este cobertor.
- Serve. Mas como vou sair daqui para casa? Que vão dizer os guardas?
- Vai para minha casa.
- E o seu marido? Que irá pensar?
- Não pensa. Vai ficar em Londres dez dias.
- Se não incomodo...
A casa de Mariana fica em Vale de Lobos. Daniel olhou impressionado.
- Você nunca me disse que tinha uma casa tão elegante.
Coloque a máscara. Temos de encontrar um título para o Livro. A partir do Capítulo 9, hiberno. Tem de ser um trabalho coletivo. Pense e decida. O teatro político contínua.
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C.S
- Mariana!
- Não pediu para lhe contar tudo?
- E a seguir?
- Depois de o ter sentido como homem, pensei na loucura que me estava a passar pela cabeça e pelo corpo...
- Eu estou nu.
- Já senti.
- Em vinte e quatro horas perdi dois fatos. Peço-lhe que encontre qualquer coisa para me cobrir. Quero ver como está o meu gabinete.
“Enrolado no pano branco que cobria a marquesa, Daniel viu, estupefacto, o que tinha acontecido.”
- Não existe. Simplesmente não existe.
Depois, voltando-se para o nada que o cercava, abeirou-se da janela, colocou os olhos no Céu e gritou furioso:
- Vocês não podiam ter feito isto! Não podiam! Tenho direito às minhas opções! Vocês não podem obrigar-me a fazer o que eu não quero!
- Fala sozinho?
- Esqueça!
- Esquecer, esqueço, mas estou a ficar preocupada. Oiço-o falar com os espíritos...
- Por favor, Mariana. Não seja infantil.
- Eu ouvi.
- Esqueça o que viu e ouviu.
- É difícil esquecer quando se acredita nos espíritos que equilibram o corpo.
- A matéria contém as virtualidades.
- Aquilo que aconteceu é fruto do espírito que nos acompanha.
- Esqueça.
- A evidência diz-me que um espírito se revoltou contra a matéria.
- A matéria e os espíritos não largam as características iniciais da vida.
- O que aconteceu é algo de anormal.
- Acredita em fantasmas?
- Acredito em espíritos. Sei que podem acontecer coisas inexplicáveis e imprevisíveis. Eu vinha de uma vidente que me deixou bastante preocupada com aquilo que me disse. Mas para lhe ser franca, eu acredito e não acredito e, por isso mesmo, não dou grande importância a visões trágicas, embora aquilo que sucedeu...sim, pode ser o começo de algo muito terrível que está para acontecer.
- Não seja sugestionável. O poder está na matéria.
- E o espírito?
- O espírito vive em outro espaço.
- Os espíritos ficaram em tudo quanto existe desde a criação do Universo.
Coloque a máscara. A ignorância não está em pedir aumentos. A ignorância está em fazer greves que impedem os Governos de os poder dar. Prejudicam os trabalhadores e o povo em geral.
Foram as greves que mataram a Primeira República, 1910-1926, e assassinaram o Primeiro Ministro António Granjo e Machado dos Santos, em 19 de Outubro de 1921. os Homens a quem Portugal deve a República.
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C.S
Capitulo quarto
Quando Daniel abriu os olhos encarou Mariana que lhe esfregava o corpo.
- Que está a fazer?
- Limpo-o do pó.
- Chamou alguém?
- Não.
- Como conseguiu trazer-me para aqui?
- Levantando-o, como quem levanta uma pena.
- Diga a verdade. Por que está aqui? Que horas são?
- Quatro da manhã.
- Quatro da madrugada...e a senhora aqui?
- Estava a passar perto da fábrica quando vi luz no seu gabinete. De repente senti que tinha acontecido algo de estranho porque o senhor parecia voar. desliguei os alarmes. Entrei pela porta privada. Subi rapidamente e encontrei-o coberto deste esquisitíssimo pó. O gabinete está sem um único quadro, móvel ou tapetes. Tudo desapareceu.
- Como vim parar à marquesa do gabinete médico?
Quando fiz a primeira limpeza, olhei para o senhor e de opaco e rijo só tinha o sexo.
Olhei-o espantada. Através do seu corpo, da sua cabeça, pernas, pés e braços, via o mármore róseo que cobre o chão. Temi que o senhor só fosse espírito. Toquei na parte que me pareceu mais sólida.
- Mariana...
- Tenho de ser sincera. No resto do corpo dava-me a impressão, caso lhe mexesse, que o atravessava de lado a lado. Depois, tirei-lhe o pó que o cobria. Ao tentar levantá-lo, apercebi-me que não tinha peso.
- Mariana.
- Agarrei-o com todo o cuidado e transportei-o para aqui.
- E não chamou ninguém? Alguém sabe do sucedido?
- Não. Uma voz estranha, mas que parecia já ter ouvido sussurrava-me: "agarra-o e leva-o daqui". Foi o que fiz.
- E conseguiu... colocar-me assim, sem qualquer esforço?
- Bem, sem esforço também não foi.
- Está a esconder-me alguma coisa.
- A verdade é que ao chegar a este gabinete, eu que o transportava nos braços, como quem transporta um boneco, ganhou muito peso.
Caí e fiquei com o senhor em cima de mim, uns bons vinte minutos. Senti-me bem.
Coloque a máscara. A vida traz-nos surpresas inacreditáveis. Tanto dá como tira. “É a vida!” como dizia António Guterres, Secretário-Geral da ONU.
Anterior “Livros à procura de autor, 10”
C.S
Daniel sentiu um ar gelado percorrer-lhe as faces. Instintivamente, seguiu essa sensação e viu aterrado a moldura da filha ser projetada a alguns metros de distância desfazer-se no chão.
Daniel compreendeu que não devia insistir com os amigos.
Entrou pela noite sem fome, sono ou cansaço. Naquele momento, tinha a certeza que era urgente contactá-los.
Daniel reconhece que contra os Espíritos a sua força não existe, mas a sua teimosia é maior que o seu discernimento. Insiste:
Olavo: “Octávio encarnou em ti, foi através do teu corpo que a revelação nos iluminou. Tu és a minha derradeira esperança. Imploro-te que me respondas. Sempre foste magnânimo. Sempre te admirei. Estimo o povo de onde foste originário. Tu eras o meu Deus do norte. Acreditei mais em ti do que em Deus.”
Daniel não conseguiu dizer mais nada; rapidamente sentiu os efeitos da blasfémia: à sua volta tudo começou a inchar como se os objetos ganhassem vida e crescessem impiedosa e monstruosamente. Pensou que estava a ficar louco ou que a fome e o cansaço o estivessem a perturbar. Os sapatos, a gravata, o fato, a camisa, apertavam-lhe todo o corpo. As paredes tornaram-se cada vez maiores. De repente, um estoiro surdo, quase inaudível, reduziu todos os objetos a pó. A roupa volatilizou-se e ele, inconsciente, ficou estendido no mármore do sumptuoso gabinete de onde o tapete de Arraiolos tinha desaparecido, enquanto todas as partículas de matéria desfeita o cobriam, tal como a terra cobre os corpos nas campas dos cemitérios.
Fim do terceiro Capítulo. CONT.
Coloque a máscara. O perigo ainda não desapareceu. Pior que os vírus são as greves.
Os demagogos e os ignorantes ainda não compreenderam que ao deitar dinheiro fora, o Governo não pode fazer aumentos. Quando os faz a dívida cresce. Ela é a terceira maior da U.E a seguir à Grécia e à Itália.
Anterior “Livro à procura de autor, 9”
C.S
Dirigiu-se a Karl.
“Karl, para ti só o real e o concreto contaram. Ou tu não fosses Alemão. O trabalho obcecava-te. Só te esquecias dele quando apanhavas bebedeiras monumentais. Nesses momentos davas largas às tuas envergonhadas alegrias.
Sabes que não sou um fraco... Tive uma hesitação durante um milésimo de segundo... estou cheio de remorsos, querendo desaparecer e viver convosco. Diz que me ouves.”
O tempo passou. Daniel desesperado voltou-se, outra vez, para Jânio.
“Jânio, tu és da minha idade. Vivemos no Brasil o que é possível viver de felicidade neste mundo. Sei que deves estar ofendido com a minha lassidão, a minha inacreditável cobardia.
Os brasileiros são os únicos seres à face da terra que compreendem as fraquezas e sabem tirar todo o prazer da vida. Contigo, eu soube que isso é verdade. Pelo tempo que passámos no Rio, em S. Paulo, em Brasília, em tantos outros lugares de norte a sul do Brasil, eu te peço que me oiças, que me perdoes e sirvas de união entre mim e todos os nossos companheiros.”
Daniel não obteve resposta. A noite entrava, no rosto do riquíssimo industrial. Exausto, sem comer nem beber, continuou a saga, intervalando os seus pedidos e as suas concentrações com estranhos espaços vazios de pensamento. O seu cérebro funcionava como uma lâmpada prestes a fundir-se. A corrente da consciência ligava e desligava automaticamente mas, a reminiscência do que pretendia fazer, levava-o sempre à ideia inicial.
“Racine, meu querido amigo, os nossos negócios atingiram todos os limites. Sempre considerei Paris a cidade do conhecimento, do saber, da cultura. A minha admiração por ti foi sempre muito grande. É a primeira vez que te peço ajuda. Não negues este pedido a um condenado à vida.
Os minutos passavam, os suores invadiam Daniel. Mas habituado a lutar muito e a resolver os seus insucessos pela insistência, pela teimosia e pela persistência, sabia que tinha de continuar.
Na fábrica, só ele e os dois guardas da noite.
Havia câmaras e alarmes que detetavam o mínimo movimento.
Daniel invocou Hernandez.
“Hernandez, também eu nasci na península. Fomos os que mais nos visitámos. Na época, vivia a maior parte do tempo em Cascais, tu ias passar férias a minha casa. Cavalgámos pelas dunas do Guincho. Lembras-te? A Madrid, eu ia menos vezes, mas sabes quanto admiro Espanha. Depois, peregrinos do mundo, como é nosso destino, afastámo-nos. Neste momento, apelo à nossa antiga amizade. Por tudo quanto realizámos juntos, concede-me um ou dois minutos de atenção. Eu necessito saber onde vos encontrais e como vos hei de contactar.”
Coloque a máscara. Não desista. Comece por escrever sobre a sua vida, para ganhar mão. Eu só vou escrever mais 4 ou 5 Capítulos, depois é você que o vai continuar se quiser salvar os Reformados com menos de 400 Euros e o País. Envia-me a sua ideia e eu trabalho-a. O trabalho tem de ser coletivo.
O Governo, seja ele qual for, tem de ser ajudado.
Anterior “Livro à procura de autor”
C.S
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