CAPÍTULO TERCEIRO
Quando a secretária chegou viu que Daniel não estava bem.
- Precisa de alguma coisa, Sr. Daniel.
- Não preciso de nada. Preciso de ficar sozinho - respondeu o industrial.
Mariana olhou-o surpresa.
- Tem várias entrevistas marcadas a partir das nove da manhã.
- Cancele. Não estou para ninguém.
- E os seus amigos?
Daniel teve um sobressalto.
- Não estou para ninguém. Pode sair.
Mariana estava espantada. Daniel nunca tinha procedido assim. Sentiu que tinha fechado a porta à chave, o que também nunca acontecera. “Que esquisito." Pensou.
Daniel mergulhou os olhos no Tejo, esqueceu as refeições. Ficou horas sem um único pensamento. A corrente da consciência tinha parado? Já a tarde se fazia noite quando se lembrou do fato que trazia vestido.
“Com este fato não me sinto bem. Estou vazio. Que raio de ideia de vestir também as cuecas!
Há quatro anos, um quiromante previu que iria vestir a pele de outro homem e que os meus sofrimentos e alegrias seriam tantos e tais que eu teria um fim trágico.
Que estúpida distração a de continuar com este fato.
Daniel olhou uma fotografia com todos os seus sócios e amigos.
“Será que me perdoaram?”
Passou diversas vezes a mão direita sobre a fotografia, para ter a perceção dos corpos. Apertou o fato bem a si, fixou os olhos em Jânio.
Num tremendo esforço de concentração, chamou:
“Jânio, meu bom amigo, a tua bondade nunca faltou a quem necessitava das tuas palavras ou do teu património. Preciso de um intermediário para me explicar.”
Uma brisa, muito leve e muitíssimo fria passou-lhe pela face. Daniel, pensou ter encontrado o interlocutor que procurava. Preparava-se para falar quando o quadro com a fotografia do filho mais novo se soltou da parede e se desfez no mármore.
Daniel compreendeu que além de Jânio não o querer ouvir, lhe demonstrava a sua repugnância por quem faltava às promessas.
Coloque a máscara. O mundo está doente. Bastou um vírus, sem peso, para eliminar quatro milhões e seiscentos mil seres humanos. Proteja-se. Leia, escreva. trabalhe; e não há vírus que vençam a sua vontade, tenha você 20 ou 100 anos.
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C.S
Acabadas estas palavras, ouviu-se uma tosse desagradável. Octávio elevou-se de Olavo. Pairou sobre o túmulo e desapareceu.
- Que fazemos? Perguntou Karl.
Akio respondeu.
- Tivemos tudo na vida. Pelo dinheiro esquecemo-nos de viver.
Antes de invocar Octávio, chegámos à conclusão que fomos os escravos muito ricos de um mundo que ainda não se entendeu. Os descendentes preferem o prazer imediato e perigoso.
- Tens razão.- Disse Francesco. Nós vivemos para o dinheiro e pelo dinheiro, eles gastam-se nos prazeres fracturantes. Esta pandemia é um sinal de alarme.
- Certo!- Acrescentou Pedro.- Fomos escravos do dinheiro para proteção da família. Nem sempre valeu a pena.
O dinheiro envergonha-os.
Aristóteles, no século IV antes de Cristo (a.C) ao fazer a diferença entre cultos e incultos, não hesitou em afirmar que é a mesma diferença que há entre os vivos e os mortos.
- Os filhos, em vez de compreenderem os sacrifícios, criticam-nos o trabalho e as noites perdidas.
- Tal como nós nos unimos pelo dinheiro, eles unem-se pelo sonho.
Vivem as orgias e os desafios do mundo. Nós trabalhámos o estrume e aproveitámos o líquido que nos deu dinheiro, nos compensou pelo esforço, mas nunca nos deu felicidade. Recordou Racine.
- Estou desiludido com este Mundo. - Disse Akio - Cheguei à conclusão, que embora o trabalho me tenha dado muito prazer, me esqueci da solidariedade.
Se não fosse coisa de velho propunha que façamos aquilo que várias vezes já falámos e que o aparecimento de Octávio confirmou. Tal como fizemos aparecer Octávio, podemo-nos fazer desaparecer a nós próprios.
- Como procedemos? - Perguntou Edwin.
- Temos de saber quem deseja entrar na outra dimensão?
Todos responderam afirmativamente.
- Para tentar a autodestruição, teremos de pensar a melhor recordação desta vida. Em seguida, concentramos toda a energia para que o pensamento atue segundo a nossa vontade.
Todos compreenderam a ideia?
Basta pensar na autodestruição do corpo e fazer a invocação.
Influenciados pela rápida sequência das palavras de Akio, todos aceitámos a proposta.
Façamos uma pequena pausa. Concentremo-nos sobre esta vida,
Deixemos uma recordação para o infinito, despidos de egoísmos.
Depois de alguns minutos em silêncio, abraçámo-nos.
Ao redor do túmulo, erguemos as mãos para o Céu, e implorámos sete vezes:
"Que o meu pensamento destrua o meu corpo. Que ele se transforme em luz e entre no Espírito Universal!" E voltámos a repetir - "Que o meu pensamento destrua o meu corpo. Que ele se transforme em pó e entre no Espírito Universal!"
À sétima vez, a concentração era tão forte que o latejar das têmporas nos abafava as vozes. Em segundos Akio desfez-se. A sua aura desapareceu no infinito. Um a um, todos foram desaparecendo. Quando chegou a minha vez só me lembro que o terror me prendeu a vontade e gritei desesperado Nãaaaaaaaaoooo!!!
CONT no Terceiro Capítulo
Coloque a máscara.
Com passinhos leves entra uma personagem de tragédia e de sonho.
Como vamos encontrar um autor e um editor para o livro e oferecer isso ao Governo para ele fazer um cofre para os Reformados com reformas abaixo de quatrocentos €uros?
Só coloco mais 4 ou 5 Capítulos para incentivar a escrever e a ler. Se vir que falhei nesta ideia... tenho de encontrar outra.Um Português nunca desiste.
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C.S
Concentremo-nos."
A um gesto seu, todos invocámos:
"Octávio, os teus amigos precisam de ti. Os espíritos atuam como guias dos seres que continuam na terra: rogamos-te que dês sinal da tua presença."
Depois de sete invocações, as entranhas da terra começaram a arfar.
Do vértice do túmulo saiu uma ténue silhueta, mistura de fumo, cor e cinza, que ficou entre nós.
Todas as outras campas se iluminaram. Ficámos envolvidos por vapores.
- Bem-vindo Octávio. Disse Karin.
De entre os companheiros aqui presentes escolhe um em que possas encarnar.
Vou pedir-te para responderes a algumas perguntas tal como há anos combinámos, desde que um de nós entrasse no mundo dos espíritos.
Recordo-te os companheiros: Karl da Alemanha, Akio do Japão, Patrick da Inglaterra, Francesco da Itália, Jânio do Brasil, Hernandez de Espanha, Daniel de Portugal, Racine de França, Hassan da Arábia Saudita, Olavo da Suécia, Edwin dos Estados Unidos da América e Karin da Índia.
Para conhecermos a tua vontade, pedimos que te dirijas a quem desejes encarnar.
O fluido de Octávio tomou o corpo de Olavo.
Karin voltou-se para ele.
- Nunca duvidámos que a vida continuasse para além deste mundo.
Durante muitos anos debatemos este assunto. Fomos a Congressos onde esclarecemos dúvidas. Associámos as empresas. Fizemos um pacto jurando que o primeiro a partir voltaria ao local onde o corpo tinha ficado. Todos cumprimos. Este é o momento de partir, de nos reunirmos para podermos preparar o regresso. Como devemos proceder?
Os olhos de Olavo ganharam brilho. A voz tornou-se rouca.
- O ser humano necessita de meditações sucessivas para eliminar restos de irracionalidade.
A minha vida na terra não foi exemplar. Vocês conhecem os meus e os vossos exageros. Incarnado no corpo de Olavo sei que ainda não aprendi o suficiente para voltar a reentrar.
Compreenderão melhor, logo que nos encontremos neste espaço, que não ocupo, mas que sinto.
A existência tem duas memórias. Só uma é capaz de se materializar.
É muito confuso o que dizes. Vais-nos ajudar?
- Não posso.
- Sempre pensámos que nos pudesses aconselhar e proteger.
- Aos espíritos não se lhes deve pedir o que os humanos são capazes de fazer. Tudo está escrito no Universo. As entranhas da terra, o brilho dos astros e os fundos dos mares revelam todos os segredos porque enquanto vivos, a matéria de que somos formados tem como base a energia inicial e por isso o enorme poder do ser humano que ele ainda não sabe aproveitar corretamente continuando a sufocar o Universo com tóxicos de grande aquecimento.
CONT
Coloque a máscara. Seja previdente. A gripe anda aí. O Covid segue-lhe as pisadas.
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C.S
SEGUNDO CAPÍTULO
No escritório, Daniel recordou a noite anterior
Estávamos em pé, de braços estendidos sobre a campa de Octávio. Fazíamos a meditação preparatória para entrar no espaço de onde acreditávamos que tínhamos saído em feixes de luz, ligados uns aos outros e a tudo quanto existe.
Karin iniciou a cerimónia:
"Foram muitos os trabalhos por que passámos.
Unidos pela amizade soubemos ultrapassar as dificuldades. Mas sabemos que não conseguimos vencer a morte.
Este mundo só tem de válido a amizade. O capital da amizade rende incalculáveis dividendos. Chegámos a esta posição porque utilizámos a nossa amizade, as nossas capacidades e os nossos conhecimentos.
Ao tentarmos este contacto com Octávio, para nos desligarmos deste mundo teremos de nos desprender de todos os sonhos, de todas as vontades e ter a coragem suficiente para entrar no Pensamento Universal de onde tudo o que existe saiu ao mesmo tempo em forma de luz.
Vamos mergulhar no infinito e regressar ao átomo inicial.
Transparentes, felizes e lúcidos ficaremos gravitando pelos Céus dezenas ou centenas de milhares de anos até voltarmos à encarnação.
As energias cósmicas tornaram-nos homens poderosos, mas insatisfeitos.
Com a morte física de Octávio a união fragilizou-se. Já nada nos dá prazer.
Usufruímos tudo quanto esta vida nos pode dar.
Para entrarmos na outra dimensão, temos de o fazer na primeira noite de lua cheia, só assim essa força nos envolverá e levará para o infinito que nasceu e aumenta desde há mais de catorze mil milhões de anos."
O silêncio, o cemitério iluminado pela lua, as nuvens de vapor que subiam das sepulturas faziam do local um cenário belo e macabro.
Karin continuou:
"É necessário dirigir as ondas mentais para o infinito onde se encontra o Espírito de Octávio.
Nenhum de nós pode temer algo do que acontecer. O receio, em qualquer dos momentos desta comunicação, desligá-lo-á imediatamente da corrente de que somos os elos. A hesitação ou o medo implicará o caos, a confusão e o tormento enquanto viver.
Fomos firmes, audaciosos e crentes em tudo aquilo que fizemos. Vencemos o desafio da vida. Venceremos o desafio da morte, morrendo para a vida terrena
As nossas mentes são centrais de energia muito potentes.
Coloque a máscara. Até ao final do Inverno temos a gripe. O Covid teima em passar férias em Portugal.
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C.S
- Não esqueço, não senhor. Eu sei que é um dos homens mais ricos de Portugal. Nem sei mesmo, se do mundo. Devia ter tento na língua, mas que quer? Depois de quinze anos em coveiro, não consigo ver ninguém na vertical: é tudo deitadinho. Pobres, ricos, multimilionários, miseráveis não resistem ao Samarra. E, se passados alguns anos, os visse desfeitos e escorridos, como eu os vejo, o senhor compreendia o meu jeito de falar. Não valemos nada.
- Você fala demais. Mas ainda não contou o essencial: tirou-lhe o fato.
- Tirar, tirar, não foi bem assim. Como a urna estava almofadada vi que ele até se sentia mal. Ali dentro devia fazer um calor dos infernos; desapertei-lhe o colarinho, tirei-lhe a gravata e até pareceu ganhar cor. Depois, enchi-me de coragem e perguntei-lhe: quer também que lhe dispa o fato? Ele não respondeu e fiz o que o senhor já sabe. Saiu tudo, até as cuecas que o senhor leva com o preço do fato: são de seda, assim como a camisa. Foi a minha que m'o disse.
- E lavou as peças?
- Para quê, senhor Daniel? Para quê? O senhor Octávio estava limpíssimo! Cheire, ora cheire.
- Deixe-se de parvoíces, homem!
- Com este perfume devia ter levado mais algum. Isto é perfume Louis Féraud.
- Onde eu caí!
- Estava junto do túmulo do senhor Octávio, posso jurar.
- Não diga isso a ninguém. Você não tem escrúpulos?
- Tenho sim. Guardei religiosamente todo o enxoval.
- Espero que isto fique entre nós.
- Pode ficar descansado, logo que entregar os três mil e quinhentos dólares, o assunto morre aqui. Eu sou um túmulo.
- Você é o diabo.
FIM do Primeiro Capítulo.
Coloque a máscara. Evita a gripe, não se deixe contaminar e ganha coragem para o Segundo Capítulo.
Ler e escrever mantém a saúde mental. Comece a escrever a história da sua vida. Se puder trabalhar, trabalhe. O País precisa de si.
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C.S
- Se quiser empresto-lhe o meu fato de trabalho. Não paga nada. É de graça. Não quero ver ninguém chorar dinheiro. Sou pobre, mas não sou indigente. Vou-lhe emprestar o fato.
- Não quero! Eu fico com o fato, mas continuo a pensar que isto é um roubo.
- Pense o que quiser. Pode escolher entre dois fatos. Um é de graça, o outro pouco representa para uma fortuna como a sua. Mas se a vontade é poupar, aqui tem o fato que visto, para carregar aqueles que não podem roubar a vida...
- Não são os três mil dólares que me preocupam. Aquilo que me chateia é ser roubado descaradamente.
- Eu não lhe roubo nada. Até lhe dou a possibilidade de uma escolha.
- Que escolha? O seu fato cheira à morte! Quase vomito só de o sentir.
- Cheiros. Ainda tenho outra solução.
- Qual é?
- Posso chamar-lhe o motorista.
- Nem pensar! Eu fico com o fato pelos três mil dólares.
- E paga-os?
- Você ofende-me!
- Desculpe. Tenho levado tantos pontapés que às vezes esqueço-me de que devo ter reverência. Foi o instinto. Saiu-me. Já não é a primeira vez que, quando precisam oferecem tudo, mas quando se apanham servidos nunca mais se lembram das promessas.
- Como é que pensa que arranjei a fortuna? Acha que foi a pagar tudo quanto me pedem? O negócio está feito. Não se fala mais no assunto.
- Morra quem se negue.
Daniel preparava-se para sair, mas voltou para junto do coveiro.
- Você não me chegou a dizer a quem pertence este fato, que foi comprado numa das melhores e mais elegantes lojas de Lisboa.
- A marca está lá.
- Devia ter pertencido a alguém muito rico. De quem era?
- Se quer saber, paga mais uma quinhenta.
- Ó Samarra, você é um escroque!
- Se não o tivesse recolhido, a estas horas estava a empacotá-lo: todo o seu dinheirão não lhe serviria para nada. Tenho a certeza que os filhos se encarregariam de o desbaratar bem mais rápido que o senhor pensa e ainda continua a chorar umas notas de alguns dólares.
- Devo-lhe então três mil e quinhentos dólares?
- Assim é que é falar. O senhor não fica mais pobre e ajuda o Samarra, a Clementina, a Mariana e o Tiago a irem para as Américas.
- De quem era o fato?
- Do senhor Octávio.
- Do Octávio! Que me havia de acontecer! E você guardou este fato...
- Durante muito tempo e sem naftalina. O cheiro suave atrai as pessoas e afasta as traças.
- Você é que me saiu uma boa traça.
- Ando a poupar há anos. O senhor ganha num dia o que eu nunca ganharia em toda a vida. O meu dia de sorte tinha de chegar e chegou. É preciso saber esperar.
Quer um conselho, senhor Daniel?
- Diga lá! Já disse tantos disparates, mais um não fará grande diferença.
- Nunca tire a esperança a ninguém. Na essência somos todos iguais. Só que uns desistem logo à partida, mas há outros que podem nascer no mais miserável dos lamaçais e nunca se dão por vencidos. Não é justo que lhes tirem a esperança. E o senhor não é tão mau como parece. É vício.
- Vício?
- De explorar, de guardar, de ter mais e mais sem necessidade.
- Você não sabe o que é ter milhares de empregados e garantir-lhes o salário?
- As empresas são fontes…
- E quando secam. Quem paga aos operários?
- Homens como o senhor nunca deixam que isso aconteça.
- Não esperava encontrar um coveiro especialista em economia e de raciocínio rápido.
- Os nossos discretos companheiros ensinam aqueles que aprendem na escola da vida.
- Os mortos?
- Os livros.
Daniel olhou-o com simpatia.
- Quem lhe deu o fato?
- Bem, sabe, isto é...
- Deixe-se de evasivas. Você roubou o fato.
- Bem...a "minha" viu o fato e disse-me que era um fato daqueles que dava sorte...
- Desenterrou o Octávio e roubou-lho.
- Não foi bem assim.
- Não foi bem assim, como?! O fato estava no corpo do Octávio.
- Estar, estava, mas eu desenterrei o senhor Octávio para ver se ele se encontrava bem, assim como fiz com o senhor.
- Eu não estava enterrado!
- Esteve quase. Havia cotão por todo o lado. Ficamos por aqui.
- Não, não! Acabe o que estava a dizer sobre o Octávio.
- Eu tive a impressão que o senhor Octávio gemia dentro da campa. A terra tinha um aspeto esquisito; estava enrugada. Eu que me gabo de fazer obra asseada reparei que a terra se encontrava mexida. Ao cair da noite voltei aqui. Continuei a ouvir qualquer coisa que ainda hoje, quando me lembro, sinto um arrepio. Aquilo já não parecia de gente, mas ouvia-se. Enchi-me de coragem, agarrei na pá e abri a cova. Destapei, com muito cuidado, a tampa da urna. Mal empregada, valia um dinheirão. Só a tampa, em pau-santo, dava para eu ir para as Américas.
- Ó, homem, despache-se. Você não teve medo?
- Medo? Depois de sentir o primeiro arrepio pensei: se o homem está morto não me faz mal, e, se estiver vivo, ainda me agradece. Aí é que eu encontrava o meu pote de libras. Era a minha sorte grande.
- Mas o Octávio estava morto.
- Estar, estava. Mas não estava muito contente.
- Não estava muito contente?
- Ele devia ter tentado voltar-se.
- Depois de morto?
- Talvez. Garanto-lhe: ele não gostou. A cara era de quem não tinha achado graça por estar naquela situação.
- Você não diga isso a ninguém. Agora começo a lembrar-me do fato.
- Vai ver que o vai sentir. Ele ainda lhe vai dizer qualquer coisa.
- Sentir como?
- Esse fato era o dele. Teve-o vestido pelo menos vinte e quatro horas.
- Esteja calado. Não me lembre horrores.
- É o meu fato de sorte...o senhor leva-o... vai ver…ainda nos havemos de entender.
- Consigo?... Nem morto! E negócios... Nunca mais! Aviso-o ainda de uma coisa; não se esqueça da pessoa para quem está a falar.
CONT
Coloque a máscara.
Anterior "Livro à procura de autor 2"
C.S
- Arranje-me um fato... Qualquer coisa que possa vestir.
- Infelizmente sou coveiro. Não sou alfaiate nem tenho um pronto-a-vestir.
- Lá está você, outra vez, com o infelizmente. Não vê o estado em que me encontro? Arranje-me um fato.
- Só se for desenterrar algum...
- Deixe-se de graças!
- Como queira, Sr. Daniel. Os passeios no cemitério são à borla, os fatos...pagam-se.
- Quem lhe disse que ficava a dever? Arranje o fato e deixe-se de brincar com assuntos sérios
- Sérios e bem sérios – Respondeu Samarra descontraidamente.
- Você tem mais jeito para o teatro do que para coveiro.
- Não é o que os mortos dizem.
- Dizem?
- Ainda nenhum reclamou. O senhor foi o primeiro.
- Eu não estou morto... ou estou?
Samarra riu com gosto.
- Felizmente não.
- Você está a gozar comigo e eu não sei porque lhe dou conversa.
- Nesse estado... e dentro do cemitério...
- Arranje-me o fato e tenha tento na língua. Você assim não vai longe.
- Ai vou, vou. Morrer coveiro é que eu não morro.
- Com essa linguagem não vai muito longe.
- Eu sei que não vou morrer coveiro. Decidi que sou homem como os outros. Nem o senhor, nem ninguém me tira a esperança.
- Se sabe quem eu sou escusa de mostrar altivez.
Samarra mudou de tom.
- Desculpe... estou habituado a falar com os mortos... O senhor era mais um... a gente perde a reverência.
Afinal somos todos iguais ao nascer e ao morrer. Eu de ver tanta gente importante levar com umas pazadas de terra nas trombas perdi o respeito a tanta cagança.
- Arranje-me um fato e não diga asneiras. Será recompensado.
- Tenho aí um que é coisa fina, o resto é tudo para gente como eu...
- Dê-me o mais limpo.
- Dê, é maneira de falar...
Samarra foi à desconjuntada cómoda.
- Aqui tem.
Daniel apalpou o pano.
- Boa fazenda, bom corte. Bom gosto. Feito no meu próprio alfaiate...não me diga que é o meu fato?
- Experimente-o.
- Parece feito por medida. Até a camisa é o meu número. Como é que um fato do “Lourenço & Santos” veio aqui parar?
- Bem, sabe, isto é...
- Diga lá, eu não lhe fico a dever o fato. Já vi que não é o meu.
- E paga em dólares?
- Em dólares? Você está doido! Em dólares? Onde é que já se viu isso? Estamos na Europa, homem! Euros, libras, francos! Agora em dólares!
- Pois é. Tem de ser em dólares.
- Posso saber porquê?
- Pode. Ando a juntar o meu pé-de-meia para emigrar. A minha mulher diz que os dólares é que valem, o resto é papel pintado. Eles fazem quantos querem e todos acreditam na máquina.
- Se a ideia é da sua mulher não ganho nada em discutir. E em quanto me fica isto?
- É barato. São três mil.
- Três mil escudos?
- Isso foi no século passado. Estamos na era do Euro, senhor Daniel, mas eu, antes de saber para onde vai o euro, prefiro dólares. Três mil dólares, senhor Daniel. Três mil escudos, convertidos em euros, já nem davam para umas cuecas quanto mais para um fato completo; camisa, gravata, cuecas, meias de seda e sapatos.
- Isto é um roubo!
- Quanto mais ricos, mais sovinas.
- O que é que você disse?
- Nada, nada. Eu sou um brutinho, não sei falar direito.
- Espere lá. Trezentos dólares.
- Três mil e é a última palavra. Com ele até pareço um doutor.
- Explorador é aquilo que você é.
- Eu não quero que fique mal impressionado. A gente nunca sabe se algum dia precisa… O senhor é homem de cacau, mas...
- Diga! Diga lá ...
- Não vale a pena. A minha mulher é que tem razão.
- E o que diz a sua mulher?
- Que eu falo demais. Que sou uma besta.
- Exijo que me diga o que é o mas...
- Se é isso que quer ouvir, lá vai: o senhor é um bocado miserável.
- Miserável, eu?
- Se tivesse morrido deixava cá uma fortuna que dava para comprar uns milhões de fatos, não de três mil dólares mas de duzentos mil dólares e está a regatear um fato. Veja lá se isto tem cabimento?!
Daniel engoliu em seco, e disse num sussurro:
- Não gosto de deitar dinheiro fora.
CONT 2
Coloque a máscara. Evita a gripe e previne o Covid.
Anterior “Livro à Procura de autor 1”
C.S
Tal como escrevi em Blogues anteriores temos de salvar Portugal e os portugueses. Vamos ver. se unidos escrevemos o livro que tenha venda em todo o mundo e mostre de que é feita a vida.
Que título lhe vamos dar?
O Primeiro capítulo vai dividido em vários blogues, para não ficar muito extenso.
No antigo Jornal ”O Século”,fundado em 1880 e removido em 1977 pelo Manuel Alegre, eram publicados livros de muitos escritores em folhetins. É o que vamos fazer.
CAPÍTULO PRIMEIRO
O coveiro encontrou Daniel caído sobre uma das sepulturas do cemitério. Apalpou-lhe as faces e o pulso. Fez um esgar de incerteza, levantou-o como quem carrega um saco.
Ao depositá-lo na maca, que tinha chegado da morgue, verificou que respirava com dificuldade. De fora chamaram-no.
Passados alguns minutos Daniel despertou. Sentiu o cheiro característico dos mortos. Na etiqueta, pendurada no esquife, leu: "Em caso de óbito transportar imediatamente para a morgue".
Com o abalo, que a ideia lhe provocou, levantou-se aterrorizado, tropeçou num banco, caiu no cesto do pão, bateu com a cabeça na gaveta de uma cómoda, ergueu-se de um salto, transpôs a porta e encontrou-se no meio do cemitério.
O coveiro de olhos arregalados exclamou:
- Oh, oh, oh!
Daniel teve um gesto de pudor instintivo.
- Não me olhe assim, homem! Se calhar nunca viu ninguém nu!
- Todos os dias os vejo. De pé como está, não. Deitadinhos. Vêm todos deitadinhos e muito quietos. O Sr. mexe.
- Você é o coveiro?
- Sou o António Manuel Samarra. O Sr. é o industrial Daniel Sortilégio.
- Você conhece-me?
- Não o conheço. Invejo-o.
- Inveja?
- Invejo-lhe a riqueza e a vida regalada que leva.
- Você conhece a história do bêbedo?
- Eu sei lá alguma coisa! Sou coveiro e um brutinho que pr’áqui anda.
- Todos veem a alegria que o bêbedo leva, mas ninguém conta os tombos que ele dá.
- Está bem, está. Olhe para si. Olhe prá sua figura...
- Você não imagina as frustrações, as preocupações...
- Está bem, está. Uma pessoa com dinheiro só não é feliz se tiver doença na cuca. O senhor fala direito. Não se notam mazelas, a não ser uma nódoa...
- Como sabe?
- Então não vejo. Está em pelo e devia ter batido nalgum lado.
- Você é muito observador…
- Vem ali gente.
Daniel correu para a casa mortuária. Olhou à procura de algo que o cobrisse. Agarrou num pedaço de pano que estava em cima da cómoda e fez uma tanga.
" Que ideia mais idiota a de falar com os espíritos!".
Começava Daniel estas cogitações quando chegou o Samarra.
- Já se foram embora?
- Já. Vieram saber se a cova para o irmão estava aberta. Morreu com uma dose alterada de heroína. Este mês já vão cinco... A droga é o que está a dar. A família paga sempre uma nota gorda cá para o rapaz os enterrar bem fundo, antes que eles se lembrem de andar nus aí pelo cemitério.
- Ó Samarra, você embebeda-se logo de manhã?
- Infelizmente não.
- Infelizmente?
- É. A bebedeira conserva os sentimentos.
- E você já os perdeu.
- Tal como diz.
- Eu não estava vestido?
- Que eu saiba não. E também não sei porque está nessa figura. Agora apropriou-se do pano para cobrir os mortos que por aí aparecem...
Daniel atirou o pano fora, mas sentindo-se nu, voltou a apanhá-lo e a cobrir-se.
- Posso saber como veio aqui parar?
- Não.
- Vê. Contínua arrogante, mesmo que tenha um só farrapo a cobri-lo.
- Não seja inconveniente!
- Primeiro, não sei o que é ser inconveniente, depois ainda não percebi como veio aqui parar.
CONT.
Coloque a máscara. O livro só continua se houver interesse em ler e aprender a escrever livros.
Anterior “Temos que fazer pela vida”
C.S
Como cheguei à conclusão que o País está cheio de promessas e que de promessas ninguém vive, vou dar exemplos concretos através deste blogue, como os leitores podem manter a saúde mental sempre forte e ganhar dinheiro.
Eu posso colocar no blogue, um ou vários capítulos de um livro que nunca publiquei e que pensava publicar no estrangeiro quando a fome me começasse a dar sinais de fraqueza.
Mas eu prefiro abdicar desse escudo para que os portugueses que ainda estejam piores do que eu beneficiem da escrita. Eu prescindo de quaisquer direitos para muitos portugueses saberem como escrever, relaxar e poderem ganhar dinheiro, podendo até trabalhar em várias profissões e imaginarem a sequência do livro. Os livros vivem do pensamento, dos conhecimentos e do querer.
Se conseguirem ler o primeiro capítúlo que eu vou colocar, em vários blogues, depois a continuação da história é a vossa imaginação que a dita, caso contrário, escrevo o segundo, o terceiro etc, e aí conseguiremos juntar vários leitores e talvez descobrir outro prémio Nobel. O Saramago começou como serralheiro mecânico e nunca foi homem de muitas leituras.
A nossa cabeça traz tudo o que precisamos para não morrer à fome, mas os Governos e os Deputados complicam a vida aos mais distraídos.
Escrever não custa nada. Se sabe falar, sabe escrever.
Vamos provar isso com um primeiro livro; depois com poemas que possam ser cantados.
Damos quinze meses de avanço ao Costa. Se ele resolver os problemas que afetam Reformados com menos de 500 Euros e outros portugueses com salários de fome, nós podemos aproveitar o trabalho aqui proposto e pode Governar descansado, caso contrário teremos mais um ano para afinar as baterias democráticas e ganhar as Legislativas.
Coloque a máscara. O caminho parece longo, mas “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”, escreveu Fernando Pessoa em “Mar Português”.
Não queira ser como os cães e as gatas. Fique na História, deixando algo de válido para memória futura.
Anterior “Aproveite as oportunidades”
C.S
O meu saudoso amigo Manuel da Silva Magalhães foi estudar para a Universidade de Coimbra com 20 escudos no bolso (10 cêntimos) e formou-se em Filologia Românica.
O Manuel insistia que os pobres são pobres porque não aproveitam as oportunidades.
Passados anos voltávamo-nos a encontrar, ele como professor na Escola Comercial e Industrial Jácome Ratton e eu no Liceu Nacional de Tomar.
Passados sete ou oito meses mudou-se para trabalhar no Hotel dos Templários, onde o ordenado era maior.
O Manuel continuou sempre a privilegiar as oportunidades.
O ser humano ao nascer traz consigo uma fonte de riqueza na sua cabeça, com milhões de pensamentos e ideias que nunca o deveriam deixar cair na pobreza. Como?
Escrevendo.
Escrevendo por exemplo boas canções, não a zurrapa que agora aparece constantemente nas rádios e que as pessoas ouvem uma vez e não caiem na asneira de ouvir segunda.
E como se podem escrever boas canções? Primeiro, ouvindo as canções que imediatamente ficam no ouvido e depois, com um bom tema, fazer algo semelhante, mas diferente para ir sempre acertando à medida que ganha mais conhecimentos e saber.
O que gastou? Duas folhas de papel e pouca tinta de uma esferográfica ou então, umas horas à frente de um computador, para treinar e apresentar a obra aos amigos, ouvir opiniões (nunca discuta. Oiça, pense e decida) até chegar aos cantores ou aos editores e receber uma percentagem pelo seu trabalho.
Caso prefiram patrão e um trabalho braçal, há que procurar.
Com os livros de história, romances, obras cientificas, passa-se o mesmo. A nossa cabeça tem material infinito e rentável. Temos sempre histórias para contar, umas vividas, outras que outros viveram e outras que nós inventamos.
Jovens ou velhos têm de estar ocupados até à hora da morte para nunca entrarem em depressão, ficarem patetas e recusarem sempre
a pobreza.
Coloque a máscara. Acredite em si. Nunca diga que não é capaz.
O Costa e o Marcelo têm mais um ano e três meses para mostrarem o que valem. Depois. os Reformados que ganhem menos de 500 Euros começam a sua campanha, sem nunca recorrerem às greves. Vão utilizar a cabeça e o saber.
Não Acreditam? Esperem para ver.
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C.S
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