A primeira vez que fui passar férias a Inglaterra tinha os meus vinte anos. A segunda Grande Guerra tinha terminado há dez anos. Londres estava quase refeita das feridas. Os Jamaicanos cuidavam das ruas e a limpeza era exemplar.
Fui para Inglaterra só para ver Londres e visitar Stratford. Shakespeare fascinava-me mais do que os compêndios escolares dos quais fugia, muitas vezes mais por causa dos professores do que pela matéria. Havia muitíssimo bons professores, e outros que eram autênticas tábuas lisas. Podiam conhecer da matéria mas ignoravam o coração dos alunos e o mundo que os rodeava.
Em Stratford encontrei Anne, uma jovem alemã, que também tinha assentado arraiais em Londres. Encurtando razões, passámos a compartilhar o meu quarto onde, por um penny metido numa caixinha, tínhamos aquecimento e horas de embevecimento.
Os três dias prolongaram-se por quase um mês de sonho, de passeio e de trabalho. Resolvemos visitar o Norte do Reino Unido. Não pensei duas vezes. A Anne pôs reticências. O dinheiro não é elástico. Podia recorrer aos meus pais. A Anne proibiu-me categoricamente. Eu devia saber defender-me de todas as dificuldades.
Vamos para o Norte. Perto de Newcastle havia Campos de Trabalho. Pudemos aí trabalhar oito dias, o que foi suficiente para visitar Edimburgo e Glasgow. Ainda hoje recordo esses momentos com muita saudade e algumas tremuras.
A que propósito vem esta conversa, e o que é que ela tem a ver com o esbanjamento e com a Alemanha?
Logo no segundo dia, em que fiquei com a Anne, tive a impressão que ela foi buscar, ao cesto do lixo, um tubo vazio de um produto para as borbulhas. Limpou-o cuidadosamente e guardou-o. Eu fingi que não vi. Em breve esqueci o incidente. Os meus pensamentos estavam sempre e só na Anne.
Em Edimburgo a Anne foi procurar o tubo da pasta de dentes que eu deitara para um cesto de lixo e papéis rabiscados. Olhei para ela. A Ana puxou-me docemente e disse-me:
No meu País aproveita-se tudo. Eu trabalho e estudo. Começo às sete da manhã e é rara a vez que vá para a cama antes da meia noite.
Tinha cinco anos quando começou a guerra, aos oito tudo se começou a desmoronar e aos dez, quando o horror terminou, eu vestia farrapos e passava fome. Meu pai e minha mãe, que felizmente tinham sobrevivido, faziam impossíveis para arranjar algo para comer. Ao fim de um ano, todos, pequenos e adultos, só tinham e continuam a ter um pensamento: reerguer, com dignidade, a Alemanha. O desperdício não existe. Tudo é reaproveitado. Mesmo fora da Alemanha não consigo ser diferente.
A história é grande e bonita. Fica para já a ideia que não é possível continuar a esbanjar em todos os serviços. Se não o fizermos imediatamente, a catástrofe não terá piedade de nós.
C.S
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