A Mocidade Portuguesa reunia, nas férias grandes, os jovens de todo o Império, em acampamentos de Verão.
Num deles tive a oportunidade de conviver com os jovens de Cabo Verde.
Mas o Verão, numa reviravolta inesperada do Tempo largou toneladas de água sobre o Acampamento, destruiu tendas e quase todas as estruturas. Durante três dias foi o caos. A chuva não abrandava, não havia comida, engolida por aquelas enxurradas sucessivas.
O desespero e o trabalho dos mais velhos para orientar, no meio da desorientação geral, e proteger os mais novos era insano.
No segundo dia, um Cabo-verdiano, dos mais pequenitos, veio ter comigo, que estava encharcado e enlameado e disse-me:
- Comandante – eu era Comandante de Bandeira – Tenho muita fome.
Olhei para ele desesperado, apesar de não comer há mais de 24 horas, não sentia a fome devido talvez ao stresse e por querer solucionar o que era complicadíssimo. Ninguém tinha previsto a tempestade.
Olhei para ele sem saber o que fazer.
- Sabes que todos os alimentos desapareceram nas águas.
- Comandante leve-me à enfermaria.
- Para quê?
- Eu digo que tenho febre.
- Mas não tens.
- Mas eu faço febre. Digo que tenho muita febre.
Fiz-lhe a vontade. Cobri-o com uma tela rasgada das tendas e debaixo das bátegas de água chegámos à enfermaria.
O enfermeiro olhou-nos e perguntou: “que temos?”
Disse-lhe que o jovem devia estar doente e que visse o que podia fazer.
Quando já estava de saída ainda ouvi o enfermeiro perguntar-lhe: “Diz lá o que tens?” Ele com voz cantante e de quem sofre, disse: “tenho muita, muita fome”. Escapuli-me.
Passadas umas duas horas apareceram-me uns sete ou oito miúdos de Cabo Verde, com o jovem e um pedaço de pão para mim. Eles já tinham dividido aquele que o enfermeiro lhe tinha dado.
Como agradecesse e não aceitasse, insistindo que não tinha fome, eles agarraram-me tiraram-me os sapatos e as meias que só eram lama e não me largaram sem que ficassem apresentáveis e eu os pudesse calçar de novo.
Isto nunca mais me esqueceu. Quando em 1959 escrevi o meu segundo livro “TU CÁ, TU LÁ” publicado em 1962, está na Internet. Um dos personagens é Cabo-Verdiano.
Corsino Fortes encontrei-o quando eu era Deputado e ele Embaixador em Lisboa.
Eu tinha recusado o Passaporte Diplomático para não me tentar nas benesses das viagens. Num almoço em que o saudoso Vasco da Gama Fernandes me disse que uma Delegação ia a Cabo Verde, pedi que me fizesse um para eu poder ir em vez do Narana Coissoró.
Eu tinha escrito sobre Cabo Verde sem nunca lá ter ido.
As gentes Cabo-verdianas completaram o que tinha imaginado: são uma delícia de sensibilidade, delicadeza, beleza e inteligência.
C.S
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