Domingo, 17 de Dezembro de 2017

A vida começa a não ter interesse. O valor das coisas

A desvalorização da mulher foi o primeiro sinal para o homem se desinteressar de tudo quanto possui.

A saturação de bens, em abundância e sofisticados já não entusiasma muita gente.

Em meados do século passado os jovens deliravam com um bola feita de meias velhas e um arco para fazer corridas. No arco colocava-se uma vara de metal semelhante, normalmente em ferro, e com um gancho aberto onde o arco se equilibrava e rodava.

As raparigas faziam bonecas de trapos. Todos os restos de fazenda, já bastante coçada, eram aproveitados para imaginar os bebés e o carinho a dar-lhes.

A felicidade jorrava da expressão dos jovens. No mundo, não haveria País tão feliz apesar das dificuldades serem muitas: a Grande Depressão Americana, a Guerra Civil de Espanha, as senhas de racionamento, os automóveis e camionetes a cair por faltas de peças, os pneus remendados com a borracha de pneus velhos, os comboios com máquinas a vapor, a Segunda Guerra mundial.

Tudo isto espevitava a imaginação. Jovens e adultos nunca deixaram de celebrar o Natal e todas as festarolas onde os mais velhos davam um pé de dança e arranjavam namoricos, enquanto os jovens se divertiam a fazer partidas uns aos outros e a inventar histórias para arreliar os mais peludos que juravam a pés juntos que não tinham dado um beijo à namorada, o que era pecado e um escândalo.

A miudagem não se preocupava com as consequências, esqueciam rapidamente todas as maroteiras. A vida corria feliz.

Hoje todos têm tudo e nada satisfaz.

Por que será?

Julgo que é por excesso de quantidade. Os telemóveis mudam todos os meses. As grandes empresas dão-lhes novas cores, um novo design, como agora se diz, acrescentam mais umas funcionalidades e entram em catadupa nas mãos dos clientes que ficam indiferentes quando se estragam, apesar de serem caros. Com os automóveis acontece o mesmo. A quantidade deu cabo da novidade e do interesse.

O ser humano tem tudo para ser feliz e cada vez está mais longe da felicidade.

O valor das coisas tornou-se insignificante. O ser humano não sabe mais o que fazer.

Eu ensaco-me de trabalho. Faço estudo comparado de línguas, respondo a perguntas sobre livros e encaminho aqueles que, nos Politécnicos, tentam desesperadamente unir o trabalho braçal ao mental para que a remuneração e o saber os compensem pelo esforço.

Só assim me consigo manter vivo.

 

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C.S

publicado por regalias às 07:38
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