O Corona respeita o Alentejo. Foge da alvura das suas casas e das ruas; desde sempre, impecavelmente limpas e da bonomia das suas gentes.
Muitas vezes tenho pensado o porquê das nossas rádios não passarem mais as canções do século XX. Preferem a zurrapa de cantores sem voz, que por falta de harmonia, zurram canções que ninguém ouve, porque não prestam.
“Alentejo da minh’alma” era uma das minhas preferidas, mas havia tantas e tantas outras que levantavam a alma, o prazer, a alegria de viver, num tempo em que o trabalho era a força de um País fraterno a erguer-se das sequelas de uma Primeira República, 1910-1926, violenta e miserável.
No Alentejo o Corona não se dá com a brancura das casas. A limpeza das ruas e o cheiro a lavado e perfumado de todos os lugares.
“Alentejo da minh’alma, tão longe me vais ficando...”
A última vez que fiquei em Évora foi na Pousada dos Lóios, onde acompanhava uma Delegação de Deputados da Coreia do Norte, que o Ramalho não queria receber.
O Presidente da Assembleia da República, o saudoso Teófilo Carvalho dos Santos, aflito pelo que poderia acontecer aos Deputados ao regressarem à Coreia sem terem apresentado cumprimentos ao Presidente Português, insistiu, várias vezes, com Ramalho, mas este, sorridente, com aquela cara hirta de sorriso fechado, negou-lhe sempre as investidas. O Teófilo lamentava-se a todos os grupos Parlamentares pela insensibilidade do Eanes. Até que um Deputado Comunista, julgo que Jorge Lemos, lhe sugeriu que falasse comigo, pois era muito amigo do Presidente. Teófilo agarrou-se à última esperança. A Secretária ligou ao Presidente da República, a dizer-lhe que eu lhe desejava falar. Quando apareceu diz-me imediatamente, com aquele ar imperial e esfíngico: “Que queres?! Pensas que tenho a tua vida?”
Disse-lhe ao que ia, pedir audiência para os Coreanos. Respondeu-me que era escusado, não tinha tempo. Puxa aqui, puxa ali; pelo menos cinco minutos. “Não!!” Não o larguei e lá consegui cinco minutos que duraram trinta.
O Teófilo contou aos Coreanos, como tinha sido possível conseguirem a audiência. Eles não sabiam como me agradecer. Durante os dias em que andei com eles e com os outros Deputados portugueses que também os acompanharam na visita ao País, eles não me deixavam um segundo.
Nos Lóios, cansado de tanta simpatia e cheio de sono, durante o jantar lembrei-me da muito querida Florbela Espanca. Larguei sorrateiro o repasto, subi a um dos púlpitos do Convento e recitei em Inglês o soneto “Évora”. Dos catorze versos, deixo a primeira quadra; leiam os outros na Internet ou num livro.
“Évora! Ruas ermas sob os céus
Cor de violetas roxas...ruas frades
Pedindo em triste penitência a Deus
Que nos perdoe as míseras vaidades!”
Acabado o soneto, entre palmas e confusão, subi até ao quarto e dormi como um justo que precisa de refazer energias.
Os Coreanos nunca mais me esqueceram. O Embaixador convidou-me para ir à Embaixada e à Coreia do Norte. Disse-lhe que tinha muito que fazer, mas que ia falar com minha mulher, sabendo de antemão que não ia aceitar. Convidei-o para almoçar em Tomar e ouvir a resposta. Encheu-me a casa de presentes. Entre todos, quatro garrafas de Ginseng. que minha mulher me proibiu de beber. Achava que exagerava no prazer da festa.
Mas o fabuloso Ginseng deu-me uma ajuda para fazer a felicidade de uns amigos, que viviam tristes por não poderem ter filhos. Eu garanti-lhes que podiam. Puderam, graças ao Ginseng e a uns pequenos conselhos que a minha experiência dos prazeres e da continuação da vida, me dita e eu divulgo.
Fico feliz por recordar Florbela Espanca e o calmo e quente Alentejo.
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