Era frequente ouvir, aos mais idosos, que nunca tinham férias.
Nem era porque no trabalho não as tivessem.
As férias normais eram aproveitadas para outros afazeres.
Conheci o Sr. Augusto desde jovem. Ele gostava de me falar de tudo que não fosse mexerico de aldeia. Aos 9, 10 anos falava-me da Guerra Civil de Espanha e da Segunda Grande Guerra.
Quando comecei a escrever oferecia-lhe os livros. Ele comentava-os com a sinceridade dos amigos que apontam os erros.
Aos 90 anos era ainda um homem desempoeirado. Eu metia-me com ele sempre que o via olhar as raparigas mais divertidas.
Um dia disse-lhe, Sr. Augusto, agora aos noventa, só de vista.
Ele olhou-me, de sorriso gaiato e respondeu-me “ai não, que não funciona. Pergunte à Joana”. Joana, a mulher, tinha 58.
Essa resposta serviu para começo de um dos meus livros.
Aos 93 continuava vivaço. Quando lhe ofereci o livro “Há mulheres que não se esquecem”, está online, no dia seguinte já o tinha devorado. Comentou-o com muita graça e acerto. Os tempos eram outros, mas os hábitos mantiveram-se neste povo de trabalho e inocente como uma criança.
A seguir ao 25 de Abril e quando tudo começou a aquecer resolvi enfrentar os abrutalhados ao ser igual a eles.
Numa viagem de Tomar para Lisboa tive de passar por Santarém. Em Vale de Cavalos, um homem de provecta idade pediu-me boleia. Tranquei as portas, abri o vidro e perguntei-lhe: vai para onde?
- Para Santarém.
- De que Partido é?
- Sou comunista.
- Tenha paciência, tem de ir a pé ou esperar que um camarada o leve.
- Não sou nada! Sei lá o que sou, eles dizem-me que sou comunista.
Depois de um tempo de bate-boca, deixei-o entrar. Vi que estava triste.
Perguntei-lhe que idade tinha. Respondeu "Oitenta e cinco."
- Vai aborrecido por eu não o querer levar?
- Não senhor. Vou ao médico. É a segunda vez. A primeira foi quando fui à tropa. Isto deixou de operar. Estou aflito. Era o meu consolo e da mulher.
- E o senhor ainda trabalha?
- Trabalhei sempre. Sou chegador de éguas e de vacas. É um ofício bonito. Mas isto deitou-me abaixo. Julgo que isto me aconteceu porque os meus camaradas me obrigaram a ter férias. O corpo está habituado a trabalhar e agora dá negas. Já viu a minha triste sorte? Que me havia de acontecer!
Chegámos a Santarém. Ia com pressa.
Fiquei sempre a pensar no jovem octogenário que ao descanso das férias preferia os braços ardentes da mulher.
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C.S
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