Os ciganos nunca reivindicaram qualquer território. A sua liberdade é filha da Natureza.
A Nação cigana é a Natureza. Para viverem pouco mais precisam que o Sol e as estrelas, um pouco de água pura das fontes e um pequeno negócio para sobreviveram em sociedade.
Nos dias de hoje, a sociedade empurra-os para dentro dela. Quere-os iguais, sujeitos à liberdade condicionada que os obriga a ganhar dinheiro.
Os ciganos podem ser seduzidos, mas dificilmente ficam presos à ganância. A liberdade não os obceca pela riqueza.
O ouro não os cega. Entre a liberdade e o dinheiro preferem a liberdade.
Minha mãe, quando saturada pelas minhas traquinices repetia constantemente: “tu não és meu filho. Comprei-te aos ciganos.” Tanta vez me disse isso que um dia perguntei ao meu pai. Ele riu-se. “Não vês que a tua mãe está a brincar contigo. Tu és meu filho. Tens os olhos azuis como eu. Já viste algum ciganito de olhos azuis?”. Nunca tinha reparado.
Esta atração pela maneira como os ciganos viviam ao ar livre deveu-se a eles ficarem muitas vezes numa propriedade da família, terem muitas crianças com quem eu queria brincar, mas os pais chamavam-nos sempre. Nunca me deram muita confiança. Mas se sabia que os ciganos estavam na propriedade, arranjava sempre meio de meu pai me levar até ao local onde tínhamos uma garagem.
O Lelo, da minha idade, 5 ou 6 anos, era o único que aparecia imediatamente. Sentava-se num Chevrolet de 1927 e eu deixava-lhe mexer no volante.
Muitas vezes escrevi sobre ciganos, mas a sua maneira de ser tem tanto de mistério que nunca consegui escrever um livro sobre eles.
Fiquei feliz quando ontem, Dia Nacional da Pessoa Cigana, a Secretária de Estado para a Cidadania e igualdade, Rosa Monteiro declarou, em Tomar, abrir 100 bolsas de Estudo, para jovens ciganos, no Ensino Secundário.
A primeira intervenção na Assembleia da República sobre estes assuntos, fui eu que a fiz, com o Título “A Criança Cigana”.
Comecei por lembrar aos Deputados o seguinte:
Sem esquecer a homenagem devida à heroica persistência na luta por uma vida livre e independente, quase única no mundo, não posso deixar de lamentar, especialmente neste momento, o abandono a que vem sendo votada a criança cigana, para a qual ninguém pensou jamais em infantários, em maternidades, em jardins escolas, nem ninguém quis recuperar e encaminhar na vida”.
Em Tomar tenho pelo menos três ou quatro jovens ciganos que ensinei a ler e a escrever há 7 anos quando tinham entre os 5 e os 9 anos. A Alexandra, o Nando, a Lídia, o Lúcio eram miúdos sempre atentos e aplicados. Tenho imensas fotografias onde eles aparecem concentrados no trabalho que lhes passava.
Felicito a Secretária de Estado, Rosa Monteiro e o Governo, por este apoio a um grupo minoritário de gente muito inteligente, mas que necessita de acreditar em quem o pretende ajudar a ir mais longe do que o saber ler e escrever.
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