Estes fogos inesperados de Verão levam-me aos fogos de coração que tão contraditórios se apresentam. Uns e outros têm dramáticas e por vezes trágicas consequências. Camões diz isso de maneira magistral. Oiça e pense:
“Amor é fogo que arde sem se ver// É ferida que dói e não se sente// É um contentamento descontente// É dor que desatina sem doer.”
Como a maioria dos portugueses sou um apaixonado sem remédio. Sou um louco apaixonado por Portugal e pela beleza e suavidade das mulheres que tiveram a felicidade de aqui nascerem.
Os homens são fogo, que é preciso acalmar para que a faísca não alastre de maneira descontrolada.
Os fogos do céu são semelhantes. Basta um simples raio, com um sopro de vento para incendiar algumas árvores e aí correm eles desvairados atrás do ser humano como se o quisessem envolver num manto quente com a gulodice do amor. O resultado é trágico. Vimos o que aconteceu em Portugal e na Grécia.
Também eu já quase experimentei esse abraço de amor. Salvou-me, a mim e a mais catorze pessoas, que enfeitiçadas pela beleza das chamas, que corriam em nossa direção, o grito de um velho bombeiro, com voz de comando impossível de contrariar. Gritou a plenos pulmões: larguem tudo! Fujam na minha direção e em seguida saltem para a estrada. Ninguém olha para trás! Ninguém olha para as chamas. Fujam! Já! Fujam! Fujam! E foi assim que nos salvámos do beijo fatal.
Bastante longe, e abrigados do fogo que ardia desesperado pelo insucesso, o velho bombeiro, que antes parecia ter asas nos pés e nos empurrava à sua frente, escorrendo suor, explicava-nos que nunca podíamos olhar para trás porque as chamas nos hipnotizavam, nos atrasavam e nos engoliam.
Durante anos pensei neste pormenor.
Ontem, ao ouvir no noticiário das 16h da Antena1, que os aviões de combate aos incêndios regressavam a Portugal vindos da Suécia, instintivamente lembrei que naquele tempo, o combate aos incêndios era corpo a corpo. Não havia muitos. Os campos estavam cultivados e cuidados. Os fogos evitavam atacar.
As loiras suecas e as morenas portuguesas recordaram-me o soneto do maior poeta português “Amor é fogo que arde sem se ver.”
As chamas do amor, tal como o verdadeiro amor, são difíceis de contrariar.
Melhor que me ouvirem é ler todo o soneto. Sugiro mesmo que leiam alguns poemas da poesia lírica de Camões: dão calma, sonho, bem-estar. Refrescam este Agosto que entra em brasa, sedento de amor.
Suspirem fundo. Precisamos de levantar Portugal. Comecemos pela leitura, pelo saber, pelo muito trabalho. Enfrentemos os fogos do engano.
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