Num dos Concursos de “Lisboa à Prova”, era Presidente de Câmara João Soares, fui convidado para fazer parte do Júri, julgo que éramos 39, todos especialistas em gastronomia. Principalmente cozinheiros credenciados, menos eu.
Maria de Lourdes Modesto fazia parte do Júri. Logo na primeira reunião quis meter conversa, mas não me ouviu. A senhora era surda como uma porta. Mas ouvia muitíssimo bem se colocasse em cima da mesa de reuniões um aparelho auditivo.
Em duas ocasiões, que esqueceu o aparelho, foi impossível falar com ela.
Eu recordo o “Lisboa à Prova” porque durante os meses que demorou o concurso nós tínhamos de convidar uma pessoa para almoçar e saber a sua opinião sobre o repasto. No final tomava as notas sobre o ambiente e a qualidade do local sem que os proprietários soubessem.
Uma das pessoas que eu levei foi um velhote de cor, a quem eu quis ceder o meu lugar no carro elétrico, mas que teimou em não aceitar. Nem eu me sentei, nem ele. E entretanto arenguei, alto e bom som, sobre a falta de educação que o 25 de Abril tinha trazido ao País. Ao chegar a minha paragem por acaso saímos juntos. Foi nessa altura que o convidei para almoçar comigo.
Conversa puxa conversa, ele disse-me que era Angolano. Estava em Portugal, porque lhe tinham roubado tudo. Mas aquilo que ele mais lamentava eram três livros que um tio tinha escrito e também terem sido roubados.
Veio a Lisboa, mais para procurar nas bibliotecas, os livros.
Já cá estava há cinco meses. Mas de livros nem cheiro.
Como eram horas de almoço e ele ia almoçar na Churrasqueira do Campo Grande. Disse-lhe, o senhor vai almoçar comigo e conta-me o conteúdo das obras. Como eu escrevo livros é capaz de ser mais fácil para mim procurar
Pedi-lhe o nome dos livros e convidei-o para outro almoço, daí a seis dias.
Já não descansei. No dia seguinte fui à Sociedade de Geografia de Lisboa, colada ao Coliseu, ali nas Portas de Santo Antão e pedi a uma das simpáticas arquivistas, o favor de ver se tinham aqueles livros. Ela deu-me um raspanete simpático pois era o único que lhes dava trabalho. Respondi-lhe com um sorriso e um piropo. Passados 40 minutos ela trouxe-me os três livros. Pedi que os fotocopiasse. Vinha buscá-los depois de almoço, mas convidava-a, mais a uma colega para almoçarem comigo na marisqueira que fica quase paredes meias. Elas não aceitaram.
No dia combinado do almoço apareci com as fotocópias dos livros. O homem não queria acreditar. Aí convidou-me ele para almoçar no dia seguinte pois queria-me pagar o trabalho. Disse-lhe que não valia a pena e mais uma vez, o “Lisboa à prova” serviu para eu apresentar serviço e dar a classificação aos hotéis onde comemos.
Nessa altura, o senhor ofereceu-me uma bengala trabalhada, em pau preto. Que por mais que eu recusasse, tive de aceitar.
Comecei a usá-la há uma semana. A velhice não perdoa.
Coloque a máscara sempre que necessário. Com a Varíola não brinque. Siga as indicações da Marta Temido ou da Graça Freitas, são as únicas da Saúde em quem acredito.
Os outros agora calam-se. Já têm o que reclamavam.
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