O tempo passa, as recordações ficam.
A passagem dos fins de ano na vila de Penamacor, quando Portugal começou a levantar a cabeça depois da traumática Primeira República, 1910-1926, ter ficado para trás sem saudades, resumiam-se a bailes, muita alegria e algumas bebedeiras.
Salazar recorreu a todos os estratagemas para levantar Portugal e conseguiu, sem mazelas de vulto.
A divisa “Beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses” ficou célebre. Às tascas nunca faltaram clientes.
Em Penamacor, os dois locais onde os bailes fervilhavam depois das 22 horas eram a Casa do Povo e o Clube ligado ao Jardim que tinha um cinema nos dois andares inferiores. Normalmente abria também para as festas do Fim do Ano. Ali misturavam-se os do Clube e da Casa do Povo sem quaisquer problemas. Todos se conheciam. Uns empregavam, os outros aceitavam ou não o trabalho que havia.
A Casa do Povo ficava perto do Celeiro, um armazém enorme, que os trabalhadores agrícolas conheciam bem porque era ali que vendiam todos os produtos, mas principalmente o trigo o centeio e as batatas, forma que o Governo tinha de os ligar à terra e lhes garantir o escoamento das colheitas.
O baile na Casa do Povo enchia. As mulheres e os sócios tinham entrada livre, os forasteiros pagavam 5 escudos, hoje umas décimas mais que 2 cêntimos e os filhos de não sócios, 15 tostões menos de 1 cêntimo.
As mulheres levavam sempre os comes (a comida) para, por volta da uma hora da manhã, todos confortarem o estômago. O vinho era pago no bar.
A alegria era geral e a barulheira infernal. Todos esqueciam dificuldades, zangas, arrufos; abraçavam-se e prometiam Novo Ano melhor.
No Clube, o sistema era idêntico, as mulheres levavam os comes e os sumos, os homens se queriam beber cerveja ou vinho, mais vinho de que cerveja, iam ao bar e pagavam as bebidas.
Tanto um como outro baile, raramente ultrapassavam as 6 da manhã, mas se ainda restavam umas brasas a crepitar no Madeiro, muitos homens não resistiam ir buscar uns chouriços, assá-los e entornarem umas garrafas de vinho até o dia despertar e eles irem para casa dormir como uns justos, de consciência em paz, moídos de felicidade e corpo a destilar.
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C.S
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