Minha mãe gostava muito de ler. Devorava Camilo Castelo Branco e Eça de Queiroz e todos os escritores Portugueses e Franceses que apareciam na vila raiana a seu pedido na loja de ferragens do Sr. José Geraldes.
Lembro-me que os primeiros livros de Vergílio Ferreira e de Fernando Namora os li com onze anos. Mas comecei Camilo, com os meus dez.
No primeiro ano do Liceu Nun’Álvares, o Dr. Curado Banha não acreditou.
Ao fazer uma chamada a um colega sobre um texto referente a Camilo, o título era Samardã e o jovem disse que era um bicho. Todos gozaram tanto que ficou com a alcunha de Samardã, deixou o liceu, desapareceu com a vergonha. O único que explicou o texto como devia ser fui eu. O Professor ficou tão admirado que me perguntou o porquê de Vilarinho da Samardã. Disse-lhe que já tinha lido uns onze livros de Camilo. Ele não acreditou. Perguntou-me os títulos. Não falhei um e descrevi o enredo de três. A partir desse dia, o Dr. Curado de Banha, que era considerado uma fera, tratou-me sempre com muita amizade.
Voltando ao Samardã. Qual não foi o meu espanto, passados trinta anos, era eu Deputado, quando o Samardã me apareceu em São Bento. Claro que não o reconheci. Disse-me o nome, também não me lembrava. Só quando me disse: eu sou o Samardã, lhe dei um vigoroso abraço. Trabalhava no Pedro Nunes. Pensei que fosse Contínuo, não. Era professor de Matemática. Depois de o pai o ter posto a trabalhar no campo, alguns anos, resolveu voltar a estudar, que aquela vida é boa, para quem não conhece outra melhor.
Mas o que tem, toda esta lengalenga, a ver com o supracitado título?
Minha mãe que era uma apaixonada pela leitura, quando eu escrevi os dois primeiros livros: “O Nó”, poesia; e “Tu cá-Tu lá”, prosa, sem me dizer para deixar de escrever advertia-me que os escritores morriam todos pobres; e recordava Camões, Camilo, Balzac e pôr-aí-fora.
Como não tivesse sucesso com esta advertência, o mote seguinte passou a ser: “Quanto tens, quanto vales”, mostrando que, mais do que o valor das ideias escritas, contava a conta no Banco.
Não consegui seguir o sábio conselho. O dinheiro sempre me serviu de supletivo, a que nunca prestei grande importância e que só quando fui Deputado lhe tomei mais atenção porque aquelas contas pertencem a todos os portugueses. Aí fui sempre muito rigoroso. Fora dessa obrigação nunca fiz atenção a ganhos e perdas.
Mas é um grave erro, principalmente quando chegamos a velhos e verificamos que temos que ter mais cuidado com as contas. Ser um escritor de sucesso nem sempre chega quando há quem se aproveite, através de manipulações de um trabalho de anos e pior ainda quando verificamos que, quanto temos, é quanto valemos.
Quando se é jovem, nada disto tem importância, mas quando a velhice verga as pernas verificamos que foi bom estudar e escrever sobre aquilo que vivemos e observamos, mas é péssimo por não termos tido mais cuidado quando confiamos totalmente no ser humano, seja familiar ou de qualquer outra espécie.
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C.S
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