O meu amigo Baptista, depois de lhe enviar um simples desafio de escrita, respondeu com o texto que vai em terceiro plano.
No segundo recordo este trabalhador empedernido e companheiros.
O Baptista era um falador incansável. Para minha desgraça sentava-se na carteira à minha frente. Por mais que lhe pedisse para se calar, ele não conseguia. Sempre que o Professor estivesse noutra onda, virava-se a meia banda e tinha sempre algo para dizer. Eu batia-lhe na careca reluzente. Ele nunca desistiu. Estávamos no quarto ano, hoje oitavo, do Liceu Nun’Álvares, em Castelo Branco. Eu não conseguia estudar em casa, as aulas eram a minha fonte de salvação e conhecimento. O Joaquim Vaz Antunes, o Victor Guterres, o Carlos Moura Pinheiro, o Gameiro, o José Galvão, o José Fevereiro, o Orlindo etc., não me largavam. Só não chumbámos nesse ano porque a Tia Anica nos salvou ao defender a igualdade entre pares de cábulas. A história é simples. O pai do Pardal era amigo do Reitor e este exigiu que passasse. A Tia Anica, professora de Ciências Naturais, opôs-se. Se passava o Pardal, todos os outros passavam. Escapámos. Todos tinham medo à tia Anica. O Vaz Antunes tinha 8 negas e um 16 a Ciências. Eu era um infeliz, apanhava-me sempre com algumas colegas fora do Liceu. Na aula a seguir, depois de me esticar, vinha sempre a mesma ladainha: “senhor C.S, senhor C.S, não se pode amar a dois Senhores ao mesmo tempo”. Pois o Baptista perante a recusa de recordar e publicar ESSES tempos da terrível e mentirosa Ditadura inventada por comunistas, ainda me enviou o texto consentâneo com ESTES tempos:
“Sabem uma coisa? Ando muito cansado…E comecei a interrogar-me sobre qual a razão de andar sempre tão cansado…Passei por várias etapas: a certa altura pensei que era da poluição ambiental…depois achei que era do “stress”…Até pensei que era da má alimentação que faço…ou que era falta de vitaminas…Enfim, pensei em todas as razões que se possam imaginar.
Até que acabei por dar com a verdadeira resposta…
Já sei por que é que ando sempre tão cansado!...
A população deste país é de 10 milhões de habitantes.
4 milhões estão aposentados.
Isso deixa 6 milhões para fazerem o trabalho.
Há 2,5 milhões de estudantes, pelo que sobram 3,5 milhões para fazerem o trabalho.
Destes, 500.000 fazem parte do Governo.
Ficam 3 milhões para trabalharem.
150.000 formam a Polícia, o Exército, a Força Aérea e a Marinha.
Isto deixa todo o trabalho para 2.850.000.
1.650.000 pessoas trabalham para o Estado. Caímos para 1.200.000.
Há 120.000 pessoas nos hospitais.
Descemos para 1.080.000 para fazerem todo o trabalho.
Há 130.000 pessoas inválidas.
Restam 950.000 para fazerem todo o trabalho.
Há 180.000 nas prisões.
Sobram 770.000 para trabalhar.
Há 160.000 ciganos que vivem da Natureza.
Isto só deixa 610.000 em condições de trabalharem.
Segundo o último recenseamento há 609.998 pessoas desocupadas ou na vadiagem.
Logo só há duas pessoas para fazerem o trabalho.
TU e EU.
…E, como tu estás aí sentado a brincares com a net, logicamente, eu tenho de andar muito cansado!"
Vejam bem do que o Baptista se havia de lembrar! Neste país já não se pode brincar. Até o Baptista se lamenta. Mas para fazer contas não há pai. Ou não tivesse sido ele, Inspetor das ditas.
Se o Centeno te encontra estás feito ao bife.
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